O Projeto

Datificação da atividade de Comunicação e Trabalho de arranjos de comunicadores: os embates com as determinações das empresas de plataformas

A partir da consideração de que a comunicação nas mídias digitais necessita do trabalho de comunicadores, a pesquisa tem por objetivo investigar como os profissionais de comunicação, que desenvolvem seus próprios arranjos para exercerem a profissão, atuam frente às lógicas de subsunção do trabalho humano vivo, pressupostas nos usos das ferramentas digitais das empresas de plataformas. Nossa pergunta central é: Como e por quais meios as empresas de plataformas digitais capturam o trabalho vivo de profissionais que atuam em arranjos produtivos da área de comunicação? Os métodos a serem triangulados são informações obtidas em entrevistas com comunicadores, programadores, cientistas de dados e gestores de empresas de plataforma; dados da observação do trabalho, levantamento documental, grupos de discussão e estudos de casos múltiplos. Os resultados da pesquisa preveem produção teórica-conceitual, experimentação metodológica, desenvolvimento de tecnologia social capaz de articular academia e sociedade civil para a criação de protótipos de ferramentas abertas para 5o trabalho de comunicadores e para a comunicação entre trabalhadores. Os objetivos da pesquisa bem como os resultados esperados estão em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).

Palavras-chave: plataformas digitais, datificação, comunicação e trabalho, arranjos de comunicadores, materialidades sensíveis, tecnologias de informação e comunicação.

A comunicação nas mídias digitais e a cultura digital dependem do trabalho de comunicadores em suas mais diversas atividades. Não há cultura digital sem o trabalho de jornalistas, publicitários, relações públicas, assessores de comunicação e profissionais de audiovisual nos mais diferentes lugares e funções, incluindo a crescente figura do “profissional de mídias sociais” e a presença de youtubers e influenciadores digitais que são profissionais de comunicação.

Ao trabalharem e se comunicarem em plataformas de grandes empresas de tecnologia, os trabalhadores da comunicação estão a fornecer a elas dados pessoais não apenas sobre as suas vidas, mas informações sofisticadas sobre as rotinas produtivas das quais fazem parte, bem como sobre relações de comunicação e trabalho mobilizadas, além de dados como localização do trabalho (em casa, circulando na rua, no escritório/redação/agência), horas trabalhadas, rede de relacionamento (network), níveis de relacionamento, além de toda a produção técnica, artística e intelectual.

Ou seja, todos os gestos e expressões do corpo, da voz, das sequências organizativas e de renormalização do trabalho – das normas prescritas para o trabalho real – são transformados em dados que servem ao ‘aprendizado de máquina’, à atualização tecnológica e como mercadoria para os leilões de perfis, entre outros negócios. Um compósito de dados que estamos chamando de “materialidades sensíveis”, as quais são produto histórico da espécie e fruto das relações de produção que constituem as sociedades humanas e estão sendo subsumidas no próprio momento de sua expressão pelas plataformas digitais.

Na atualidade, as ‘materialidades sensíveis’ são captáveis, reorganizáveis e arquiváveis. Como arquivo em uso, elas são a base para as atualizações dos algoritmos e das ferramentas digitais (aplicativos etc.), para a constante reestruturação e racionalização dos processos de trabalho. A cada atualização, demanda-se um ato também atualizado do trabalho.

A partir desse quadro analítico, enunciamos as seguintes perguntas de pesquisa:

  1. Como as empresas de plataformas digitais se apropriam do trabalho vivo de comunicadores em seus arranjos produtivos?
  2. Em quais dimensões as lógicas da plataformização operam sobre o trabalho dos arranjos de comunicadores?
  3. Como é feita a coleta e o gerenciamento dos dados que são capturados dos trabalhadores para atender aos objetivos comerciais das empresas de plataformas?
  4. De que modo a ascensão da datificação modifica as condições sociais do processo de produção no trabalho dos arranjos de comunicadores no que toca à circulação e ao alcance de discursos?
  5. Como a datificação impõe lógicas organizativas para as atividades profissionais e técnicas laborais dos comunicadores em seus arranjos de trabalho?
  6. Quais implicações as lógicas tecno-comerciais de datificação têm para os processos produtivos nos arranjos de trabalho de comunicadores?
  7. Há estudos que demonstram que a plataformização e os algoritmos reproduzem a opressão e o preconceito (étnico, racial, social, sexista, de gênero, etc.) existentes na sociedade. Essa reprodução se manifesta no trabalho dos arranjos de comunicadores?
  8. É possível buscar alternativas de organização do trabalho de comunicadores sem que elas sejam subsumidas pelos algoritmos das empresas de plataformas? Por quê? Como?
  9. Como a datificação de diferentes dimensões das ‘materialidades sensíveis’, envolvidas no trabalho humano, criam impedimentos à promoção do anseio de independência dos arranjos de trabalho dos comunicadores?

Esses problemas de pesquisa tomam como premissa a dependência dos novos arranjos do trabalho de comunicadores em relação às empresas de plataformas e orientam os seguintes objetivos:

  • Identificar como e em que medida as ‘materialidades sensíveis’ no trabalho de comunicação alimentam os algoritmos das plataformas.
  • Identificar meios para mostrar como as ‘materialidades sensíveis’ no ambiente de trabalho compõem o big data das plataformas com finalidade de monetização e controle social.
  • Verificar se existem estratégias de resistência e inovação para que o trabalho digital nesses arranjos não seja capturado e monetizado pelas plataformas e também não reproduza os preconceitos e estereótipos sociais.
  • Verificar em que medida as lógicas algorítmicas das plataformas modificam a circulação e os sentidos dos produtos comunicacionais dos arranjos produtivos de comunicadores.
  • Fornecer base conceitual e experimentações para que os arranjos de trabalho dos comunicadores possam buscar infraestrutura de plataformas públicas para as atividades que desempenham.

Esses objetivos específicos compõem os objetivos gerais de:

  • Verificar a possibilidade de uma mídia plural, independente e alternativa aos conglomerados de plataformas globais;
  • Identificar caminhos alternativos para garantir a privacidade dos dados das ‘materialidades sensíveis’ dos comunicadores que trabalham nesses arranjos;
  • Ampliar a discussão sobre a necessidade de criação de infraestruturas públicas para o trabalho digital.

O desenho metodológico da pesquisa envolve, em todos os eixos, triangulação metodológica de métodos, dados e investigadores. Os métodos a serem mobilizados são:

  • Revisão bibliográfica sobre a temática das tecnologias digitais e suas implicações no trabalho humano, na sociabilidade e na mudança cultural.
  • Revisão bibliográfica sobre o trabalho digital e funcionamento das plataformas e de seus algoritmos (centrando nas especificidades do trabalho dos comunicadores).
  • Prospecção e levantamento de pesquisas e de experimentações de acadêmicos e profissionais que possam contribuir com conhecimento sobre a temática do projeto.
  • Organização de arquivos com as informações que forem amealhadas sobre o funcionamento dos algoritmos das principais plataformas de redes digitais (Meta, Alphabet, Microsoft, Amazon).
  • Observação de como trabalham e qual o fluxo do trabalho dos arranjos de comunicadores.
  • Levantamento de arranjos de trabalho de comunicadores que tenham estratégias para se manterem independentes e/ou alternativos às lógicas das plataformas.
  • Entrevistas semiestruturadas com comunicadores dos arranjos, com cientistas de dados, desenvolvedores e com profissionais das empresas de plataformas e demais pesquisadores que possam contribuir com informações sobre o funcionamento das Data Management Platforms (DMPs) na captação, interpretação e organização de dados, bem como sobre a circulação e monetização dos mesmos.
  • Grupo de discussão e oficinas dos quais participam comunicadores, cientistas e ativistas para discutir, compartilhar e construir estratégias alternativas.

Como síntese, apresentamos a proposta de pesquisa em três eixos estruturantes de seu desenvolvimento:

Eixo 1: Comporta workshops de treinamento da equipe de pesquisadores; as atividades de revisões bibliográficas sobre as temáticas abordadas pela pesquisa; prospecção de outras pesquisas e profissionais que estudam ou atuam nessa temática; organização de arquivos com os dados secundários;

Eixo 2: Comporta a segunda fase de workshops de treinamento da equipe de pesquisadores. Busca de material primário: levantamento e seleção de arranjos de comunicadores para o estudo de casos múltiplos; entrevistas, observação, grupos de discussão;

Eixo 3: Comporta a terceira fase de workshops de treinamento da equipe de pesquisadores. Organização e execução de oficinas de experimentação, prototipagens e modelagens.

  • 2023 – Eixo 1 da pesquisa
  • 2024 – Eixos 1 e 2 da pesquisa
  • 2025 – Eixos 1 e 2 da pesquisa
  • 2026 – Eixos 1, 2 e 3 da pesquisa
  • 2027 – Eixos 1, 2 e 3 da pesquisa

Buscar